27/01/2009
Amor novo amor
contudo parece não dar para viver
sem um novo amor
um corpo com calor
se o que restou foi o frio, a dor.
Quero um amor novo ao meu lado
distante do enfado
de viver a dois.
Versos não bastam
não calam a saudade
do amor que foi e não voltou.
Amor novo
não demore
venha e encha minha casa com alegria
e as velhas lembranças
que fiquem para depois
distante do enfado
de viver a dois.
07/01/2009
No interior
Longe vi a menina só correndo.
O vento leva e traz seu olor inocente,
na verdade sinto seu cheiro em tudo que me rodeia ou faço.
Vê-la não melhora minha dor.
Dor é quando penso nela.
13/12/2008
Um poeminha triste
Também sei da minha tristeza
Somos dois
Numa só tristonha vida.
02/12/2008
Notícias de um bar V
26/11/2008
Paragem
Rapidamente o bando se acoitou. Liderando os cabras estava Niceto. No canto da paisagem e por detrás do velamal, sem respirações ou engatilhos, se encontravam. Moita. Butuca. Tocaia. Pela testa de Niceto escorria lama: barro e o suor na barroca dos olhos se juntando. Parece faltar pouco tempo para o barulho espantar os passarinhos d’uns esgalhados cinzas e das coroas de frade. Canção das paragens sertanejas. Vê-se o ar subindo do chão. O queixo esquentado no cabo da papo amarelo e a vida rodando feito rodamoinho na cabeça dos cabras. Niceto se prepara e mira seus revólveres. Aquela brincadeira... manja! O nome da meninice lhe reflui quando percebe os homens na iminência de correrem um ao encontro do outro como n’um baile louco da morte. Ah! Niceto te cuida, pois sua mãezinha cose algodão para tua próxima camisa branca, debulhando o terço e olhando o seu retrato como doutor do ABC. Niceto foi estudar e não demorou a cair no mundo, na carraspana. O restante era aquela fotografia velha. E a passarada revoou. Sangue fervendo numa pedra. Reflexos coruscantes nas fitas e medalhas do Niceto. Um perfume de pólvora perfuma o descampado, a poeirama se mistura ao sangue, ao sol, a toda paisagem confusa. Niceto longe de si só vê o fundo azul que parece cada vez mais perto, perto, perto...
18/11/2008
Poesia concreta de Augusto Pontes*
12/11/2008
Verve
"Fortaleza fica tão mais bonita de madrugada e mais perigosa e me transforma em um menino, de olhos abertos e arregalados procurando tudo e descobrindo nada, pois nada mais há para descobrir, eu bem sei.
De madrugada, a cidade como que desvela a sua verdadeira alma despudoradamente e eu também. Que belo e quão terrível. Assim me vou pelas minhas madrugadas, revendo os velhos companheiros de jornada. Garçons, donos de bares, vendedoras de flores enfeitando a noite de perfumada delicadeza, Jornaleiros, malandros, biriteiros habituais, a moça tão linda que me olha e me sorri como se me reconhecesse de algum lugar que não me lembro e a alegria solta pelos bares e a densa solidão das pessoas escorrendo, espessa, de seus olhos famintos.
E sempre encontro meus parceiros noturnos de sempre. Não raro, entre umas e outras, nasce mais uma canção despretensiosa feita somente para nos dar prazer. Ah, uma canção a menos, uma canção a mais, que diferença faz. Quanto mais escrever um poema súbito num guardanapo sobre uma mesa modesta de botequim. De madrugada sinto-me ridiculamente romântico, é quando me percebo mais pleno de humanidade. Esse aglomerado de emoções, prazeres, sustos, medos me provoca deslumbramento quando volto pra casa de manhã. Hoje, por exemplo, juro que vi um arco-íris."
Por quê não querer escrever tão belo assim? Lamento ainda ser vítima da minha pobreza de espírito e inteligência, mas pelo menos tenho este divã chamado "Massagada".
10/11/2008
Um amigo meu poeta disse: “ler demais mexe com o escrever”. Um dos maiores sábios que conheci, seu Aparício Lima de Petrolina, confessou-me n’um curto convívio que nunca leu quase nada, nem jornal, mas conversava muito e ouvia. Mesmo caso de meu avô João de Deus, agricultor e praticamente semi-analfabeto (detesto essa expressão), é filósofo vivo sempre doutrinando com humor e sapiência as coisas da vida. Não sou sábio, poeta...quiçá... filósofo.
Achei graça quando uma garota me reconheceu como escritor, disse não ser um escritor e que só padecia da necessidade de escrever moldando textos. Pensei em ler menos, seguir o exemplo dos acima lembrados, preferi continuar lendo e tenho neste dias no colo o romance “Naná” de Zola. Quando li Manuel Bandeira acreditei que fazer poesia era simples. E é. Difícil mesmo é ser poeta.
Engana-se quem imagina não estar doente ou pelo menos triste. No meu quarto vive um ser estranho, coberto de penas e com cauda de víbora... criatura auspiciosa de poderes mágicos. Taquicardia ataca sempre. Zé Lins do Rêgo era hipocondríaco e nem por isso todos que possuem tal distúrbio escrevem acuradamente como o inaudito paraibano. Zé Alcides era maldito ungido na poesia de Baudelaire, Borges lia Plínio. Preciso de um benzodiazepínico. O tal ser regurgita uma pastosa massa branca e dela surge um sonho desconexo: “O escuro chega rápido. Há pouca luz, apenas uns bicos toscos de iluminação. Quando o mato rasteiro começa a cheirar e não muito longe sua vista alcança, deita-te no chão e ponha-se à divagar no ritmo pungente do grito das almas agonizantes. Atravessado no meio da madrugada um chocalho alerta... acorda...acorda..acorda.”
Venho com constância a este espaço cibernético esputar as produções mais idiossincráticas possíveis. Toda noite antes de dormir imagino se pelo menos uma pessoa leu os meus escritos... minto... escrevo por puro egotismo. A vontade de ter a verve de um escritor é maior que minha vergonha. Sou despudorado, sou uma farsa, sou ator de um filme sem roteiro, apenas com o fim inevitável da mediocridade.
Um diálogo perturbador irrompe na noite já quase manhã:
-Porra, caralho são quatro da madruga e tu num matou esse filho da puta?
-Não tenho coragem...
-É só puxar o dedo e vê se mata logo!
-Já disse, não tenho coragem...
-Ah! Mata logo!
-Jesus...
-Não é ele que vai matar não, você é o enviado... estás apenas fazendo a vontade dele.
-Nunca é esta a vontade de Cristo!
-Vai tomar no cu, enfia a porra do dedo na pistola e mata logo!
-Mata você...
-Mata logo!
-(...) hummmm
-Se tu num vai matar esse filho da puta, eu mato!
Gostaria de ter a verve de um escritor. A necessidade não é verve, é, acima de tudo, um fardo.
05/11/2008
28/10/2008
Notícias de um bar IV
- Nezinho você não vai tomar esse ror de aguardente, não precisa homem.
24/10/2008
Chamado
18/10/2008
Notícias de um bar III
28/09/2008
Rua
um homem morto:
joão
francisco
foi qualquer um...
[O chuviscar cortante embaciava o cenário
dando ares lúgubres à rua]
Não vinha
nada
ninguém.
Ali só o frio era presente
provocando ânsia e frêmitos na carne.
24/09/2008
Notícias de um bar - II
- Olha... o mercado imobiliário no litoral de Caucaia está em crescente desenvolvimento, não longe de receber incentivos estatais para que novos investidores pousem por lá e é neste anseio que estou injetando uns fundos monetários para construir no ramo da hotelaria.
Um interlocutor mais desavisado e sem conhecê-lo, pergunta quebrando o clima descontraído típico dos bares fortalezenses com o cenho um tanto carregado de seriedade:
- O senhor realmente acredita no potencial lucrativo daquela região?
- Graças a Deus!
- Engraçado me responderes assim, mas o senhor sempre arrisca em mercados já explorados exaustivamente?
- Graças a Deus!
- Espera um pouco, o senhor é louco em acreditar nos poderes divinos em meio a transações financeiras e de investimentos?
- Graças a Deus!
Não demorava e logo aparecia algum para “desmascarar” em tom de humilhação o desajustado Joaquim Nazareno, urrando em meio a neblina de fumaça tabagística palavras longe de uma amabilidade aceitável para com um pobre doudo:
- Joaquim vai pra puta que o pariu com estes graças a deus, porra! Este cabra andou queimando a rosca lá por São Paulo e voltou falando asneiras, inclusive blasfemando o nome do Todo Poderoso em vão... E você aí garoto vê se para de escrever sobre este doido que tu acaba ficando doido também.
São nestes momentos que o pobre "Graças a Deus" vai embora e apenas retorna alguns dias depois, como se com raiva estivesse e debaixo d'outro pileque fenomenal...
09/09/2008
Escritores
08/09/2008
Notícias de um bar - I
- Desgraça. Nada mais. O meu Juca sumiu desde que dei as contas a Maria Elvira. Dava mais não aguentar aquela mulher! A desgraça caiu sobre minha pessoa, meu filho não entende o mundo, a vida e ainda acha razoável magoar este coração safenado. Seu Aquilino põe mais uma dose, por gentileza.
O líquido com gosto de podre espalhou-se na boca de seu Calixto e só o Juca lhe refluía nos pensamentos. Injustiça da mais crua esta. Graças a um ato tardio, mas de coragem, deixou o lar, ganhou a liberdade e perdeu um párea. Arranca impulsivamente o maço de cigarros junto com o telefone móvel da calça e disca o número do filho desgarrado e este prontamente desliga seu aparelho para não ser importunado pelo “flagelador” de sua família. Espicha o pescoço e grunhe para seu Aquilino:
- Mais outra. Ele não entende, nem atende...
No recinto do bar adentra um amigo dos tempos de criança e acode o pobre diabo, proferindo palavras de alento, entre elas:
- Calma e tempo é o que o garoto precisa, deixa-o ter a primeira mulher e saberá o que chamam de vida à dois, saberá que nem sempre existe uma harmonia entre as pessoas e que o mundo não é só a casa em que vive... dá tempo Calixtinho.
Em cima do que disse seu amigo, retrucou Calixto com uma voz amarfanhada:
- Mas Elias o Juca diz que me odeia e a Maria Elvira não está nem um pouco comovida com esta situação dramática que vivencio. Como sempre defendi, ela é uma sonsa da mais fina categoria, não acha pouco eu estar vivendo no balcão do seu Aquilino e sem o meu menino, meu rapazote.
Elias consternado e sabedor das coisas da vida, aconselha:
- Bebamos Calixto. Bebamos. No momento a melhor solução tópica é embriagar-se. Seu Aquilino me traz duas doses duplas de uísque que hoje vamos falar mal de tudo e de todos, precisamos de uma boa quantidade de álcool para não agirmos com precauções ou medos... não te preocupas ele há de compreender e voltar.
01/09/2008
Iracema
19/08/2008
Eis Mefistófeles!
e detentor de um mau caratismo,
venho hoje
através destes versos pobres
pedir perdão por ser um mefistófeles.
Longe na madrugada sombria
escondo meus pensamentos
para que não revelem sua face demoníaca.
Escorro nos becos das favelas
e bebo do líquido sifilítico da puta velha.
Sou um endemoniado,
diria alguém com uma moral decente,
mas não valho-me de conceitos alheios...
visto a roupa de um criminoso sem escrúpulos
e varo a cidade procurando vítimas para meu querer sanguinolento.
Não lembro dos rostos
- ficam somente vultos céleres e gritos roufenhos-
dos que prejudiquei com minha vocação maligna.
Sou aquele que mente, que abusa, mata.
Sou mefistófeles, o grão mestre do que há de podre.
Sinto remorso
mas peco.
Quero meu perdão!
Perdoa-me Satã, juro que não lerei mais o Evangelho
e não terei mais aquela galinha preta no quintal.
Vá tomar no cu, diria-me Zé Alcides Pinto,
com razão admito- Ele era enviado, abençoado-
possuia a marca sagrada
o signo maligno
daqueles que sabem o que escrever.
Oh! Versos imbecis,
porque mostram-se assim tão inválidos e confusos?
Meu Deus dai-me motivos para viver!
A todos que existem:
Perdão por ser um mefistófeles...
12/08/2008
Afogamento
08/08/2008
Agosto
14/07/2008
(sem título)
bem pouca, como a salmoura que escorre do queijo.
Imbecil. Tola até.
O azedume, pretume, o estrume
nada foge ao meu versejar,
escapa-me apenas a poética.
Ah! Poesia, não vá!
Não deixa-me aqui a encanecer.
Mesmo indo... esconde de todos que já tentei escrevê-la.
05/07/2008
Espelho d’água
Aqui em pé no fio de pedra
contemplo as ondulações.
Espelho mágico que me traz a infância.
Dormitei e a água sumiu da pequena poça...
novamente perdi meu reflexo,
não vi esvaírem-se os anos
que não vivi.
10/06/2008
Oração
22/05/2008
Devaneio
num sabor.
nalguma mentira.
Soluçar o amor, salivar o sabor.
Mentir-se para melhor dormir.
Vai lógica, vai pr'o inferno. É melhor assim.
13/05/2008
O Tísico
- O vizinho telefonou dizendo que depois de muitos anos não ouvira o Sr. Jorge tossindo.
09/05/2008
Sexta
06/05/2008
29/04/2008
Densa noite
escapado do canto de tua boca
faz-me rir e debruçar sobre este papel
como o fiz numa densa noite:
seus leves e finos lábios
crepitam com o tocar de nossas bocas
- famintas e salivantes-
que ao fim do inevitável encontro calam adormecidas.
a madrugada promete
os tecidos comprometem
assim
dois corpos cingidos na singeleza da paixão.
um conjunto de músculos lassos
um feixe de respirações exasperadas
tornam-se unos com o vibrar dos roucos gemidos.
devorar é o verbo
-a língua a sintaxe-
desta oração profana.
os deuses a muito esquecidos
assistem incrédulos o desfecho desta densa noite:
gozo...
22/04/2008
Rua
15/04/2008
Aleatória
10/03/2008
Estória de pescador
Uma jangada está lá no final do mar. Longe, quase invisível aos olhos comuns. Chico, Seu Luiz e Branquinho tripulam a embarcação e buscam o peixe para encher a boca de suas famílias. Branquinho fala muito, Chico é quase mudo, Seu Luiz dá ordens e vão mar adentro com suas linhas e redes. Covarde e mulher não pescam de jangada, criança só quando tem sangue grosso e de pescador, neste meio a cachaça é a diversão e ao mesmo tempo anestesia para o tempo, não há espaço para muitas brincadeiras... o caixote cheio de peixes traz o homem, o pai e a comida de volta à terra. Vazio, apenas desolação sem solução. Os três recolhem as redes e as linhas, Seu Luiz reclama:
- Arre. Peixe num tem mais. Vamo branquim infia isca nessas linha que há de fisgá algum.
- Eita agora vai – Branquinho quase rindo – se Seu Luiz quer, fisga!
Já estavam três noites na lida e naquele balançar incessante, os peixes vagarosamente enchiam a jangadinha, quase manhã ouviram um grito de Chico. Uma barracuda de dentes afiadíssimos desgraçara sua mão. Num pulo de agilidade Seu Luiz encharcou a mão de Chico com cachaça e a embrulhou com uma estopa bem seca e limpa e ordenou:
- Nóis pesca até mei dia e desaba pra casa e trate de se aquietá, assim a febre demora mais a te pegá. Chegá lá procura o dotô e pronto.
Nesta agonia Branquinho chamou Seu Luiz:
- Seu Luiz, duas linha tão batendo forte...
- É mais barracuda, vamo lascá essas maldita.
Quando chegaram na areia da vila, Joana de Abel já esperava Seu Luiz, pois sempre ficava observando quando a vela alaranjada despontava no canto das falésias... viu o coitado do Chico sendo carregado e queimando em febre, mas logo Seu Luiz atalhou:
- Joana vê se num chora. Esse aí é forte e num morre por causa de mordida não.
Branquinho nem dividiu a carga e agarrou-se com o violão e uma preta bem gorda que não gostava muito dele, mas que precisava comer e como! Chico perdeu um dedo e meio e não dava indicações que aquilo iria lhe limitar a habilidade de pescar. Seu Luiz vendeu uma parte dos peixes e outra mandou salgar, agora estava numa rede bem fria a olhar seu cachorro magro que se desesperava com os siris na beirinha da praia.
05/03/2008
Absorto
Estou catando o que sobrou pelo chão empoeirado. Peças soltas, quebra-cabeça de ilusões espúrias. Desfigurado pelo reflexo irresponsável do espelho oxidado, decaio e morro aos poucos. Um gole travado num café é suficiente para uma análise sem um especialista na psique humana, estou morrendo aos poucos. Consumindo-se. Vou a rua e tento não retornar ao lar, tento acreditar que lá, na rua não no lar, sou menos infeliz... atitude reles e ingrata. Tudo é pensar. Uma voz irrompe no meu lampejo de loucura e retorno a realidade:
- Tudo bem?
- Sim.
- Tenha uma boa noite e vê se lê menos... faz mal, viu!
- Claro, claro. Até mais ver.
Chego a me assustar, mas logo volto a minha divagação insana e constato que estou morrendo realmente.
26/02/2008
O magarefe
22/02/2008
O velho, pombos e a Rua
O poeta do cão
E no seio duma rapariga nova
O poeta maldito descansa a bebedeira desmedida.
Marginalidade vestida num terno espalhafatoso.
Transcorridas as vielas fedorentas do centro
E acabado seu charuto barato
O Mário Gomes volta ao leito de sua casa.
15/02/2008
Rei negro
25/01/2008
Quase poesia
Preto, cinza escuro é o tom do cenário
Onde sou ator e espectador. Verdade.
Dia frio em Fortaleza
09/01/2008
Meu outono
02/01/2008
Negacear
não late
e envereda pelos entremeios da solidão...
roendo devagar,
fagocitando devagar,
bebendo as lágrimas para a sede saciar.
Só a dor me move
não me comove, pois dela sou cria
esputo indigno e enteado rejeitado.
A luz entrando pela janela anuncia o dia quente,
os pedintes já começam a se retorcer no calor do papelão
e os loucos, cansados da noite insana, descansam dopados.
O mundo funciona para a solidão
porisso
esta dor silenciosa me invade.
20/12/2007
Delirium Tremens
livrar-se dela parece impossível,
enquanto nos pés atulham-se baratas e pequenos aracnídeos.
O sol desponta inclemente sobre minhas alucinações:
corpo vazio e trêmulo não responde as ordens cerebrais.
10/12/2007
Samba
com ritmo e sangue
vivo.
Sorrindo no choro.
Chorando na alegria.
Cá restou o peito de um sambista.
24/11/2007
Versinho lisonjeiro
gosto de ler a tua arte e não me é
possível esconder que leio a ti com
o mesmo prazer de ler .PAlcidesZé.
*Poema dedicado ao terno Raphael Barros, amigo e poeta.
23/11/2007
Vazio
vácuo,
barroca sem fundo,
meu coração parece estar.
Estou louco,
sem rima,
jogado ao mundo,
sem aqui querer estar.
14/11/2007
Estória do comum burocráta.
05/11/2007
Bêbedo
seguram a cabeça.
As mãos descascadas:
cirrose hepatica.
As mãos nodosas
não valem mais nada.
As mãos pedem por mais um trago... apenas.
03/11/2007
O antigo
cansado
um velho se tomba por aqui.
A estrada carroçável
mastigando
seus andarilhos, vermelha-fogo.
Travessia para o nada,
verdade fulgaz,
chegou aqui o velho.
Torto
o caminho de barro e pedras
traz o novo:
percorrendo as veredas já perpassadas.
*Pensando em J.G. Rosa
30/10/2007
Versos de fúria
Sifilíticos pregando o Genêsis.
Molecotes estrebuchando debaixo de pauladas.
Eu, estúpido e derrotado, assintido o espetáculo no outro lado da rua.
22/10/2007
16/10/2007
O mar verde mar
ainda vejo o mar
[apenas numa parte da enseada branca.
entrecortado por enormes blocos de concreto:
vislumbro esta pequena paisagem quadrática
quando a tristeza me tomba
e as forças minguam
ou as soluções tópicas e usuais não a remediam...
somente o mar me acalma
levando e trazendo
em tempo lento
seus acalantos e jangadas
até minh'alma mareada pelo balançar cansado da vida.
30/09/2007
O cachorro e sua senhora
e moral de meretriz,
dominada pelo seu pequeno cãozinho
a senhora viúva passeia delicada pelas calçadas.
A fidalguia se desfaz nas vontades do ilustre animal
que escolhe a oportuna hora de defecar...
ela o ama mais do que seu finado marido.
27/09/2007
Mariposa
03/09/2007
Uma pequena morte
30/08/2007
Fortaleza
tão comuns.
De bêbados, sábios e loucos
tão comuns.
De mar, vento e sol
que banham os comuns.
Fortaleza signo de um amor estranho:
incomum.
24/08/2007
Elegia ao arcaísmo
Na tessitura dos que ardem em divagações métricas
- Droga!
- O que foi?
- O léxico me foge...
- Te fode?
- Também.
20/08/2007
Para quem servir...
Do malandro menino
Sempre tímido, sempre apaixonado,
É amar.
Ele anda desatento
Feito criança
Balançado por um porre e
Por uma mulher qualquer.
Vai comprar na banca
Um maço de cigarros
Dizendo: hoje é segunda-feira
Como se um dia fosse qualquer!
Mom
Um mero ruminante a vagar perdido pelos pastos e cercados secos da vida.
Sou uma carcaça andante,
sem chocalho,
sem aboio,
sem nada.
Por isso meus insignificantes versos bovinos.
16/08/2007
Quadra para o mestre Carlinhos
Seus braços lentos e sua parcimônia.
Queria que fosse meu pai ou tio:
Tudo... menos o que sou hoje.
13/08/2007
Flor de plástico
inerme
muda
quase parnasiana
)como uma intocada jovem mostrando-se sem motivo
no beiral
para um espectador utópico.
Trazendo em si
a singeleza imbatível de uma flor que vive,
mas ela sabe(
triste
estéril
já pós-moderna
)sabe que não tem perfume.
10/08/2007
29/07/2007
tendo em lugar de seu corpo um molambo frágil e bêbedo,
apenas a mão segura a cabeça,
o resto adormece sobre a cansada cadeira de cedro.
o quartinho quente encerra toda a vontade de viver...
papéis e livros infestam o ar com acarídeos,
um cheiro azedo de solidão é o que impera.
a Morte ronda insone.
a vontade de continuar vivo definha na surdez de uma noite febril:
uns copos de cachaça e uma corda já bastaram.
o mar lá em baixo é verde
e sem importar-se com o velho
não pára de alquebrar suas ondas inquietas
no espraiado amarelo d'areia.