24/09/2008

Notícias de um bar - II

Sempre era com descaso e ironia que recebiam o “Graças a Deus”. Joaquim Nazareno seu nome verdadeiro, “Graças a Deus” o apelido depois que endoidara e foi assim esquecido seu nome constante da certidão de batistério. As versões para sua loucura repentina são incontáveis e impossíveis de se afirmar a veracidade contidas nelas, certo é que ficou louco com idade adulta depois de ter voltado do sul... suas sandices, inofensivas e absurdas, não passavam de lorotas mais ou menos bem concatenadas com a realidade. Tomando por exemplo quem não fosse acostumado com suas palestras falaciosas era bem capaz de acreditar no que dizia o “Graças a Deus”, pois sua loquacidade, inicialmente, não acusava traços de loucura. No bar os freqüentadores mais assíduos não suportavam as mesmas babugens de sempre:

- Olha... o mercado imobiliário no litoral de Caucaia está em crescente desenvolvimento, não longe de receber incentivos estatais para que novos investidores pousem por lá e é neste anseio que estou injetando uns fundos monetários para construir no ramo da hotelaria.

Um interlocutor mais desavisado e sem conhecê-lo, pergunta quebrando o clima descontraído típico dos bares fortalezenses com o cenho um tanto carregado de seriedade:

- O senhor realmente acredita no potencial lucrativo daquela região?

- Graças a Deus!

- Engraçado me responderes assim, mas o senhor sempre arrisca em mercados já explorados exaustivamente?

- Graças a Deus!

- Espera um pouco, o senhor é louco em acreditar nos poderes divinos em meio a transações financeiras e de investimentos?

- Graças a Deus!

Não demorava e logo aparecia algum para “desmascarar” em tom de humilhação o desajustado Joaquim Nazareno, urrando em meio a neblina de fumaça tabagística palavras longe de uma amabilidade aceitável para com um pobre doudo:

- Joaquim vai pra puta que o pariu com estes graças a deus, porra! Este cabra andou queimando a rosca lá por São Paulo e voltou falando asneiras, inclusive blasfemando o nome do Todo Poderoso em vão... E você aí garoto vê se para de escrever sobre este doido que tu acaba ficando doido também.

São nestes momentos que o pobre "Graças a Deus" vai embora e apenas retorna alguns dias depois, como se com raiva estivesse e debaixo d'outro pileque fenomenal...