08/09/2008

Notícias de um bar - I

Lágrimas sobre o balcão sebento. Seu Calixto cheio de lamúrias chora o silencio proposital do filho desde que deixou a mãe dele, confessa a dor sentida nestes dias... seu rebento não lhe dá satisfações e nem sequer liga para saber de sua frágil saúde. Mais uma cachaça, mais um punhado de lágrimas. Disse em tom de desafogo:

- Desgraça. Nada mais. O meu Juca sumiu desde que dei as contas a Maria Elvira. Dava mais não aguentar aquela mulher! A desgraça caiu sobre minha pessoa, meu filho não entende o mundo, a vida e ainda acha razoável magoar este coração safenado. Seu Aquilino põe mais uma dose, por gentileza.

O líquido com gosto de podre espalhou-se na boca de seu Calixto e só o Juca lhe refluía nos pensamentos. Injustiça da mais crua esta. Graças a um ato tardio, mas de coragem, deixou o lar, ganhou a liberdade e perdeu um párea. Arranca impulsivamente o maço de cigarros junto com o telefone móvel da calça e disca o número do filho desgarrado e este prontamente desliga seu aparelho para não ser importunado pelo “flagelador” de sua família. Espicha o pescoço e grunhe para seu Aquilino:

- Mais outra. Ele não entende, nem atende...

No recinto do bar adentra um amigo dos tempos de criança e acode o pobre diabo, proferindo palavras de alento, entre elas:

- Calma e tempo é o que o garoto precisa, deixa-o ter a primeira mulher e saberá o que chamam de vida à dois, saberá que nem sempre existe uma harmonia entre as pessoas e que o mundo não é só a casa em que vive... dá tempo Calixtinho.

Em cima do que disse seu amigo, retrucou Calixto com uma voz amarfanhada:

- Mas Elias o Juca diz que me odeia e a Maria Elvira não está nem um pouco comovida com esta situação dramática que vivencio. Como sempre defendi, ela é uma sonsa da mais fina categoria, não acha pouco eu estar vivendo no balcão do seu Aquilino e sem o meu menino, meu rapazote.

Elias consternado e sabedor das coisas da vida, aconselha:

- Bebamos Calixto. Bebamos. No momento a melhor solução tópica é embriagar-se. Seu Aquilino me traz duas doses duplas de uísque que hoje vamos falar mal de tudo e de todos, precisamos de uma boa quantidade de álcool para não agirmos com precauções ou medos... não te preocupas ele há de compreender e voltar.
A partir daí ouviu-se apenas o tilintar dos copos e o riscar dos milhares de fósforos...