12/08/2008

Afogamento

Chaz. Chaz. Chaz. São as ondas derramando-se a beira da praia, parece o ritmo do tango de Piazzolla, nada muito rápido... tudo intencional, cadenciado. Espumas brancas carregadas de sargaço são absorvidas pela areia fininha. Um tanrantantan começa a atrapalhar esta minha contemplação marítma, um rapazote debatendo loucamente seus braços tenta gritar por socorro em meio à golfos d'água. Não me movi. Fiquei espantado num instante primeiro, segundos após tomei gosto em observar a agonia daquele jovem de corpo mirrado, via seu balé defeituoso em meio ao balançar tranquilo do mar verde de Iracema. Prontamente apareceu o primeiro herói, começou também a afogar-se e foi então que o espetáculo mórbido ganhou traços de uma tragédia citadina anunciada: "Dois rapazes morrem tentando se salvarem. Escritor que presenciou tudo diz que foi o afogamento muito rápido e não pode interceder. Um luto abate-se sobre a cidade." Jornais e revistas não captaram a beleza do afogamento, claro! Foi soberbo os rostos curiosos observando os dois corpos esticados no espraido amarelo, porém senti um pouco de remorso por não ter-me atirado contra as ondas e tentado salvar pelo menos o primeiro afogado que idade ainda tinha pouca. Não fossem meus papéis, não fosse minha covardia desmedida salvava-o. Admirei o mar engolindo vivos e regurgitando mortos, ele é grande e só propiciou este espetáculo para ver-se escrito no papel...

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom!!! O mar, mesmo não tão feroz, me afogou nas palavras.