02/12/2008

Notícias de um bar V

Na viela a primeira casa é uma bar, fato comum nos subúrbios fortalezenses, e a última também. O correr dos meninos me dá forças para discorrer sobre qualquer coisa que seja alegre, mas neste instante um banzo solapa meu escrever. Da mesma forma que os negros sentiam uma saudade depressiva da África quando nos porões das caravelas apodreciam, abate-se sobre mim uma "sodade" doida da terra onde brotei: Limoeiro do Norte. Sentado neste bar me reflui a lembrança da tenra infância e como estes meninos correm, eu corria também pelos calçamentos do meu Limoeiro. Bila, manja, emenda-emenda etc, etc etc... tudo eu brincava, eu corria, eu descobria.Vários passarinhos acertei com minha baladeira ardilosa, até gatos safados afugentei do quintal da minha avó quando um carneiro era estendido para quarar e ser assado depois por meu avô João - o velho me acordava às 4:00 da matina para ver o ritual que ia desde a machadada no cabilôro do carneiro até a retirada do couro, isso já apontava no relógio umas 7:00 e eu adorava, porém as mulheres da casa não gostavam que este espetáculo extravagante fosse assistido por um garoto de cinco anos, mal sabiam elas que eu já conhecia quase todas as coisas do mundo - em tempos de festa ou quando depois de dias sem aparecer em casa chegava cansado e puxando uma criação geralmente ganha em mesa de baralho, pois a agricultura nunca fora suficiente para estes tipos de regalia naquela época e vovô além de vigoroso trabalhador era afeito a bebida e as mulheres. A bola que os meninos chutam pára exatamente debaixo da minha mesa e um deles rouco de tanto gritar galhofa pedindo a bola:
- Ei "cachacinha" joga a bola se tu conseguir.
Aquilo me doeu e me irritou um pouco, mas eu já fui e ainda sou um pouco menino... o mesmo que corria pelas ruas do meu Limoeiro.