12/11/2008

Verve

Meu último escrito carregado de esquizofrenia literária é demasiado vulgar, dá-me ânsias ao vê-lo escrito... eis uma passagem d'uma crônica do Airton Monte:

"Fortaleza fica tão mais bonita de madrugada e mais perigosa e me transforma em um menino, de olhos abertos e arregalados procurando tudo e descobrindo nada, pois nada mais há para descobrir, eu bem sei.

De madrugada, a cidade como que desvela a sua verdadeira alma despudoradamente e eu também. Que belo e quão terrível. Assim me vou pelas minhas madrugadas, revendo os velhos companheiros de jornada. Garçons, donos de bares, vendedoras de flores enfeitando a noite de perfumada delicadeza, Jornaleiros, malandros, biriteiros habituais, a moça tão linda que me olha e me sorri como se me reconhecesse de algum lugar que não me lembro e a alegria solta pelos bares e a densa solidão das pessoas escorrendo, espessa, de seus olhos famintos.

E sempre encontro meus parceiros noturnos de sempre. Não raro, entre umas e outras, nasce mais uma canção despretensiosa feita somente para nos dar prazer. Ah, uma canção a menos, uma canção a mais, que diferença faz. Quanto mais escrever um poema súbito num guardanapo sobre uma mesa modesta de botequim. De madrugada sinto-me ridiculamente romântico, é quando me percebo mais pleno de humanidade. Esse aglomerado de emoções, prazeres, sustos, medos me provoca deslumbramento quando volto pra casa de manhã. Hoje, por exemplo, juro que vi um arco-íris."

Por quê não querer escrever tão belo assim? Lamento ainda ser vítima da minha pobreza de espírito e inteligência, mas pelo menos tenho este divã chamado "Massagada".