28/10/2008

Notícias de um bar IV

No bar de seu Léleo não toca música, bebe-se cachaça. Toda manhã o recinto é aberto para os fiéis clientes se achegarem, seu Léleo quando levantava o portão tinha sempre o papacum, criatura tísica de beber e quase morador do bar, e o Coronel Veiga que sempre falava muito, sentava-se e numa disciplina militar ia-se antes do almoço. Noutro dia comum, daqueles comuns mesmo, papacum discutiu com o Coronel e uns solavancos deixou seu rosto um pouco mais inchado. Seu Léleo fez o que devia fazer: enxotou os dois e desceu as portas. Uma batida repetidas vezes o fez reabrir o bar com cara de desgosto... era o Anésio – homem quieto, muito alto e sem gestos – adentrou pedindo um copo cheio de cachaça. Seu Léleo disse em tom sombrio como quem não quer falar:
- Nezinho você não vai tomar esse ror de aguardente, não precisa homem.
Não houve saída, a cachaça foi servida. O Anésio não reclamou de nada e tirou um cédula de mil cruzeiros para pagar pelo bebido. Seu Léleo não tinha troco e insistiu que ele pagasse no outro dia, mas a resposta o deixou entalado com o punhado de farinha que levava à boca e disse:
- Que estória é esta? Negócio de morrer hoje e não poder pagar amanhã... deixe disso.
As costas de Anésio já iam longe quando ocorreu a seu Léleo que era iminente o suicídio daquele pobre diabo. Matou-se utilizando os punhos da rede. Os joelhos dobrados confirmavam a vontade de morrer. Não deixou bilhete. Dono de bar sabe das coisas antes de Deus.