14/11/2007

Estória do comum burocráta.

Antônio. Alcunha dada pela avó e póstuma homenagem a um irmão que fora assassinado décadas atrás. No mínimo mórbido. Saudoso enleio cinza. Garoto comum, sem extremos, aluno médio, conseqüentemente homem breve e suado... suave. Casara-se cedo, claro, não tivera filhos e nunca perguntou-se o porquê. Tinha sua rotina simples de acordar todo dia às 5:00, sorrir ao seu cão velho e desdentado, talvez, não se sabe, ele enxergava-se naquele bicho calmo. Seu colarinho sempre puído, carcomido pelos suores e constantes movimentos circulares com a cabeça para aliviar sua péssima postura, legendava a dureza cansativa de preencher formulários o dia inteiro. Quando sua esposa, criatura fanática e amarela, estava a tomar café, ele sempre repetia o jargão: "Duas refeições diárias bastam a um homem: almoço e janta, apenas." e isto soava nos ouvidos dela como um emaranhado de buzinas, idênticas as que Antônio não ouviu pouco antes de atravessar a avenida. Tragifim.

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